quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Vida Solidão

Essa vida solidão
É sentir-se rejeitado
É sentir-se desprezado
Pelo amor do coração

Essa vida sem caminho
É amar sem ser amado
É um dia ensolarado
Com pedrinha e espinho

O desprezo da mulher
É sinal de inspiração
É traçar um vil refrão
Pra cantar como quiser

Essa vida sem canção
É deitar pelo silêncio
E cheirar todo incenso
Que queimar da ilusão

Essa vida sem quimera
É olhar despercebido
Para um rumo sem sentido
Ou fugir de quem espera

Essa vida sem um par
É querer vôo aberto
Enfrentar mortal deserto
Para então se libertar

Se o passo vai perdido
Quem o pode requerer?
Quem escolhe o que fazer
Quando o peito dói ferido?

Essa vida de bandido
Que me faz demais Poeta
Me atinge e me afeta
E me deixa aturdido

E se caio atordoado
Em teus pés, oh minha amada
O teu beijo é uma espada
Que me deixa espedaçado

Pois que digo, vida minha
Eu prefiro a caneta
Do que ser só um pateta
Pra chamá-la de rainha.

Pimenta Bueno, 24 de Setembro de 2009.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vou sorvendo gole em gole

Vou sorvendo gole em gole
Todo o conhecimento
Que o Espírito me traz
Na escura madrugada
Quando perco o meu sono
E me viro pela cama
Sem poder dormir de novo
Agitado em visões

Abro os olhos. Vejo longe
Contemplando meu legado
E deixando explicado
O que ainda não chegou
O futuro é incerto
Mas eu vivo o dia a dia
Trabalhando o Eterno
Para onde eu me vou.

Eu estou só de passagem
Minha casa é um hotel
Minha vida é o início
Que terá um segmento
Dentro da eternidade,
Porque o meu pensamento
Vai além da existência
Neste plano de idade.

Vou sorvendo gole em gole
Cada instante aqui vivido
Cada beijo que te dou
O sussurro em teu ouvido
Vou sorvendo com ternura
Teu olhar e teu sorriso
O teu sexo, o teu gozo,
Teu desejo escondido

Vou sorvendo gole em gole
Toda nossa convivência
Todo espírito e ciência
Que podemos partilhar.
Sorvo calmo o sorvete
Que eu chupo ao teu lado
‘Té a compra do mercado
Eu encaro com brandura.

Porque isto é o que tenho
Porque tal é o que quero
Porque o tudo é muita coisa
Porque tu és minha amada.
Nem as curvas da estrada
Nem as pedras do caminho
Nem o tiro no escuro
Nem a flor que tem espinho
Vão poder me afetar
Vão tirar o meu sossego
Vão matar a minha vida
Ou tirar o meu emprego,

Porque sorvo gole em gole
Todo o conhecimento
Que me chega sem parar
Pelas asas de um vento
Pelo sopro do Espírito
Pela Luz e o Amor
Pela Paz e pela Gloria
Que me alcançam do Senhor.

Londrina – 11/9/09

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Minha filha Alexandra

Minha filha Alexandra
Tem sorriso meigo e belo
Mais parece um desenho
De estilo japonês

É tão doce minha filha
Que me enche de saudade
A distância nos esmaga
E a tristeza me invade

Minha filha Alexandra
Tem o nome do seu tio
Tem vigor e decisão
Apesar da pouca idade

E bem como sua irmã
Me cobrou versos e rimas
Me cobrou o seu poema
Suas pedras preciosas

Ela é minha alegria
Eu a amo em verdade
É a minha bonequinha
O meu porto de bondade

Minha filha Alexandra
Me inspiro nos teu cachos
Para costurar estrofes
Num poema à distância

Minha filha Alexandra
Aproveite tua infância
Pra que quando tu cresceres
Não me mates nessa ânsia

Viva tua inocência
Minha filha mais que amada
Pois viver é uma ciência
Quase nunca desvendada

Deixo aqui minha princesa
Os meus versos para ti
Que escrevo no deserto
Para onde me perdi

E eu peço a Jesus Cristo
Que te guarde em santidade
Ilumine o teu Caminho
Para a Santa Eternidade.

Londrina – 10/9/09

Em um canto que não canto

Esse canto que não canto
Num soneto improvisado
Vai... me deixa meio tonto
Nesse canto aqui deitado

A menina da bagunça
Que bagunça nossa vida
É menina escondida
Pela casa no escuro

Co’essa cara de menina
Ela esconde um demônio
Que bagunça a bagunça
Da minha vida desmedida

E em tudo achas graça
Com teu ar mais debochado
Não te enganes, meu amor
Há um crime engavetado

Os espíritos que rondam
Nossa casa... nossa vida...
São espíritos que giram
Na ciranda escolhida

São as músicas que tocam
Que invocam divindades
São as músicas dos bares
Que infestam tantos males

Em um canto que não canto
Um refrão dita a morte
E um outro dita o roubo
E outro destruição

Nesse canto que não canto
Há poder de uma palavra
Há a força de um batuque
Samba, rock e cirandinha

Essa letra não é minha
Não é meu este encanto
Pois deitado no meu canto
Nada mais tenho empunhado

Eu deixei minhas adagas
Minhas velas e tambores
E na busca de outro canto
Eu terei novos valores.

Londrina – 10/9/09

O meu dia está nublado

O meu dia está nublado
Minha vida está nublada
E no banco, aqui, sentado
Eu não penso mais em nada

Esse vento congelante
Esfria até a minha alma
E na tua indiferença
Tu também estás passada

Se gozaste ontem à noite
Hoje a cara é carrancuda
Te preocupas mais co’as unhas
Que com a nossa existência

Não preciso desse enfado
Não agüento esse fardo
Minhas pernas tão cansadas
Já não querem caminhadas

Em estradas com buracos
Em distâncias sem medida
Labirintos tortuosos
Sempre rumo ao infinito

Estou mais para o meu banco
Para as folhas do caderno
O teclado do PC
A caneta e o tinteiro.

O meu dia está nublado
Acabei de levantar
A manhã está cinzenta
Tal e qual a minha vida

Não cumprimos compromissos
Não batemos nosso malho
E seguimos nossa vida
Sem respeito e nem visão

Não é isto o que eu quero
Não é isto o que tu queres
Não é isto o que queremos
Não é isto o que eles querem

E por isto, minha cara
Vou partir rua afora
Vou juntar todos meus trapos
E andando vou-m’embora.

Londrina – 10/9/09

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vou fechar as escrituras

Vou fechar as escrituras
Neste dia inusitado
Onde o verso bandoleiro
Me chamou para um pagode

Só faltou a violinha
Para a gente se fartar
Mas a festa foi completa
Pois não sou de usar bigode

Nos brindou a poesia
Com estrofes na medida
Não faltou inspiração
Nem vontade de escrever

Hoje vi na livraria
Grosso livro de um poeta
E me deu baita vontade
De escrever um livro todo

Eu às vezes sou o tolo
E de louco tenho algo
Quando quero fazer verso
Nada sai do acertado

E o verso é um parceiro
Como eu apaixonado
Pra falar de tudo um pouco
De assunto assuntado

Se não sou do seu assunto
Deixo ele à vontade
Para me mostrar o tino
De um conto mal contado

Ele fala muita coisa
Só não diz que sou o ‘Dado’
Porque sabe que meu nome
É bem mais representado.

O meu nome é Arnaldo
Sou a ‘Águia Poderosa’
Que do alto vê o rato
Numa fuga assombrosa...

Londrina – 9/9/09

Quando pego uma vertente

Quando pego uma vertente
Sou um míssil disparado
Bombardeio o caderno
Com os dedos no teclado

E a folha que era branca
Vai se enchendo de pensares
Desses versos quem vêm vindo
Cambaleando pelos ares

Quando pego uma vertente
Sou um trem sobre os trilhos
A puxar muitos vagões
Com a força que me chega

Sou mais forte que os dragões
Que os deuses do Olimpo
Sou mais forte que os demônios
Em Quem pode me dar Força

Quando pego uma vertente
Vou embora sem pensar
Vou descendo a ladeira
Vou correndo sem parar

Tenho as pernas dos atletas
Dos melhores velocistas
Mais veloz que o Leopardo
Eu construo meus poemas

Quando pego uma vertente
Sou mais que Benê Barbosa
Que me ensinou com versos
Que a vida é uma prosa

Mas não corro por esporte
Eu não quero competir
Sou apenas... glamoroso
É o meu jeito de fluir

Esta é minha cantata
Quem quiser que conte outra
Ou invente uma história
Pra contar sua piada.

Londrina – 9/9/09

Como cão tuberculoso

Essa tosse incomoda
Essa noite não dormi
Meu estômago doeu
Com a raiva que passei

Fazes raiva e adormeces
Nem te ligas com meu sono
Eu na cama acordado
E jogado ao abandono

Tu não cuidas mais de mim
Como em tempo passados
Eu que sou o teu cativo
Faço sempre o teu agrado

Mas eu saio dessa vida
De um jeito ou de outro
Pois não quero a comida
Que comigo não partiste

O meu peito está ferido
E o coração em chamas
O relógio vai rodando
E eu rolando sobre a cama

Essa noite eu tossi
Como cão tuberculoso
A procura de um dono
De comida e carinho

Eu só quero o teu carinho
Bem aquele que não dás
Eu só quero um beijinho
Um colinho... nada mais...

E quem sabe o botãozinho
Da roseira que cultivas
Tuas pétalas eu quero
E o teu cheiro de essências

Não judies mais de mim
Pois te amo musa minha
Teu cachorro está grunhindo
Com o rabo entre as pernas.

Londrina – 9/9/09

Meu Brasil tem Seleção

Meu Brasil tem Seleção
Joga bola, faz bonito
Mas com outra seleção
No Senado faz lambança

A Seleção tá noutra Copa
E venceu a Argentina
Lá na casa do inimigo
Com placar de três a um

Com o time do Senado
A jogada é diferente
A bolada é repartida
Por quem é mais influente

A Seleção aperta o Chile
Para a festa da nação
Que recebe o time em casa
Na Bahia... um ‘jogão’...

Lá no time do Senado
Quem comanda é o Sarney
Com jogadas de cacique
Que entrou e ninguém tira

Nosso time Canarinho
Produziu nomes eternos
Com Pelé, Garrincha, Zico,
Ronaldinho e Cacá.

Já os nomes do Senado
Poucos valem a menção
Que não faço pra zelar
Do meu verso no refrão.

No Brasil os jogadores
São heróis e referência
De esforços e vitórias
E também superação

No Senado é só farra
E notícia vergonhosa
A maior parte é tão vil
Que não dá nem gozação.

Londrina – 9/9/09

A essência encoberta

Se a vida fosse fácil
Eu nascia uma lesma
Ou nascia tartaruga
Ou até um passarinho

Eu não sou um passarinho
Vou além desse ‘voar’
Sou essência encoberta
Quando o verso se revolve

Vou além da própria carne
Que envolve o meu braço
Que envolve meu pensar
E até meu coração

Tudo isso apodrece
E o verme é quem engorda
Tudo isso vira pó
Esqueleto e cabelo

E enquanto me pranteiam
Vôo além do céu e mar
Vou além desses meus pés
Onde possam me levar

Porque vôo sem turbina
Ou sem asas de avião
Vou ao sobrenatural
Bem além da emoção

Vou além do sentimento
Onde apenas a visão
É que pode discernir
O real da ilusão

Nessa falta de matéria
Tenho a força do elefante
Tenho força mais que homem
Tenho força mais que eu mesmo

Sou essência encoberta
Quando o verso me desvenda
Quando me retiram a venda
Desses olhos que acreditam.

Londrina – 9/9/09

Eu não quero ser brilhante

Sou assim meio apagado
Transparente, descolor,
Poucas vezes sou notado
Quando sou, é ilusão

Eu não quero o legado
Dos poetas que amei
Como ‘Castro’, que tão jovem
Despediu-se da amada

Sem provar da sua alma
A essência do seu ser,
Sem provar que o poeta
Apenas vive pra morrer

Eu não quero o legado
De ‘Augusto’, que funesto
Rabiscou com cinza e pó
Seu poema-escuridão

Não quero de ninguém
O que alguém não pode dar
Eu só quero ir andando
Pra chegar aonde for.

Sou assim meio apagado
Esquisito, transcolor,
E no riso, camuflado
Eu escondo minha espada.

Eu não quero ser brilhante
Pra depois perder o brilho
Eu só quero, nesse trilho
Ser um trem sempre avante.

Da amada, ser amante
Dos poetas bacharel
E das noites mariposa
E da musa, menestrel.

Não preciso ser o máximo
E tampouco o menor
Eu só quero fazer versos
Do meu modo, o melhor.

Londrina – 9/9/09

O botão da tua roseira

Foto: Rafaela Del Negri

O botão de uma roseira
Registrastes com as lentes
Que tão bela e vermelha
Nos deixou mais que contentes

Como pode a roseira
Nos deixar emocionados
Quando olhamos o botão
Pelas lentes registrado?

Tu és como a roseira
Que nas lentes registrastes
Quando beijas minha boca
Que faminta te devora

Tu és como a roseira
Não apenas na beleza
Pois me firo nos espinhos
Quando mostras tuas garras

Sei que gosto das roseiras
Porque sou versejador
E versejo tua roseira
Que co’as lentes registrastes

Eu que sou apenas traste
Como dizes: Cafajeste
Mesmo que, se não quisesses
Te daria os meus versos

Bem que tu não os mereces
Os meus versos rabiscados
Mas eu sou incorrigível
Nos botões, apaixonado

Se me deres teu botão
Escrever-te-ei um livro
Adornado de Poemas
Exaltando tua roseira

O botão da tua roseira
É o botão da minha vida
Tu não vês, ó minha musa
O quanto quero teu botão?

Londrina – 9/9/09

Vou vivendo minha vida

Vou vivendo minha vida
Cada dia intensamente
Eu não sei se minha mente
Quer versar minha ferida

Vou vivendo minha vida
E cada dia dou um passo
Bem que às vezes me desfaço
Da bagagem na decida

Vou vivendo minha vida
E vou lento e ligeiro
Quando quero sou certeiro
Sobre a brasa aquecida

Vou vivendo minha vida
Sem pensar muito na sorte
Na angústia dou um corte
Com a faca que carrego

Vou vivendo minha vida
Sem rezar sua novena
Quando entro no esquema
No quiabo escorrego

Vou vivendo minha vida
Como escreve este verso
Porque ele é o avesso
Do que eu tenho vivido

Vou vivendo minha vida
E se me finjo de bandido
É pra ver enfraquecido
Meu carrasco... meu algoz...

Vou vivendo minha vida
Vou tentando com você
Horas, sou apenas eu
Horas, sou tudo em nós.

Londrina – 9/9/09

Poéticas Roseiras

Foto: Rafaela Del Negri

Ao alcance das mãos
O meu verso aparece
Mesmo sem ser convidado
Sem lhe ofertar prece,
Sem nada de universitário
Sem nada de pesquisado
Nas folhas do dicionário;
Sem compromisso esquadrinhado
Sem compromisso literário.

Vem simples de se ver
Como se nada quisesse
Nada para aparecer
Nem para oferecer prece.

Começo onde termino
Termino onde começo
Acordo quando durmo
E durmo quando não quero;
Amo mesmo sem rumo
E ando sem direção
O poema enche minha mente
O verso toma conta da mão.

As palavras formam estrofes
Mesmo que eu não tenha forma.
Sei que você não se conforma,
Mas, meu amor,
O Poeta é um sofredor
Colhendo versos espinhosos
Em poéticas roseiras
Plantadas no jardim da existência.

Londrina - 9/9/09

Minha filha Tainara

Minha filha Tainara
É a flor da minha vida
Um encanto adolescente
Uma bomba escondida

Minha filha Tainara
É o suporte que sustenta
Essa minha existência
Nessa guerra tão sangrenta

Minha filha Tainara
É a flor do meu caminho
A doçura feminina
Que eu encho de carinho

Minha filha Tainara
‘Screve versos e poemas
Não conhece esta estrada
De ‘mutretas’ e esquemas

Minha filha Tainara
Ficou muito furiosa
Quando viu que nos meus versos
Não lhe tinha uma prosa

Minha filha Tainara
Quer que eu lhe de presença
Mas entende minha luta
Compreende minha crença

Minha filha Tainara
Tem irmãs nessa família:
Alexandra e Iasmim
E Naiara, minha filha

Minha filha Tainara
Quer um livro com seus versos
Quer a rua com seu nome
E meu peito aos avessos

Minha filha Tainara
Quer estrelas, lua e mar
Quer tinteiro e caneta
E um amor para amar

Minha filha Tainara
Desabrocha em vida e força
Ela é minha princesa
Ela é a minha moça.

Londrina, 3/8/2009

Fim de ano está aí

Fim de ano está aí
É mais um que tá chegando
Eu, sentado no meu banco
Já me vou adiantando

Fim de ano está aí
Esse frio não termina
Mês de Agosto até o fim
Isso ó... é cocaína...

Fim de ano está aí
Eu voltei a escrever
Essa vida é muito dura
Mas não vou esmorecer

Fim de ano está aí
A energia acabou
Eu perdi foi três estrofes
Só que o Verso já voltou

Fim de ano está aí
Eu espero ele chegar
Fim de ano é fim de ano
Nada novo pra olhar

Fim de ano está aí
‘Stou aqui com meu amor
Vou dormir ao lado dela
M’esquentando em seu calor

Fim de ano está aí
Não estou preocupado
O meu nome é original
Já não sou aquele Dado

Fim de ano está aí
E eu estudo violão
E quando chegar aqui
Vai ouvir minha canção

Fim de ano está aí
Esse Verso é insistente
E não vai cantar de galo
Porque sou eficiente

Fim de ano está aí
É pra mim só mais um ano
Ele pensa que me engana
Mas não sabe do meu plano.

Londrina, 2/8/2009

Um grande caso improvisado

Tudo transcorria normalmente
E eu vivia intensamente
A minha vida de casado,
Quando de repente
Fui posto diante
De um grande caso inusitado.

Eu havia conquistado
Um espaço diferente
Quando deixei de ser Servente
E passei a ser um Jornalista
Respeitado.
Mas com a morte de uma das filhas
Tudo ficou mais complicado
E eu fui posto diante
De um grande caso inusitado.

Eu... parei de trabalhar
Parei de noticiar
Parei de priorizar
Vereadores e deputados
Prefeitos e senadores
Secretários e comicionados.
Fui para longe cuidar
Da saúde da esposa
Pois, eu também
Fiquei debilitado
Foi quando fui posto diante
De um grande caso inusitado.

Depois de dois meses
Tive que escolher entre voltar
Ou permanecer ali, calado
Ao lado do meu amor
Que estava tão abalado.
E o mundo se contorcia
Dentro do meu peito amargurado,
Pois eu deixava ao passado
Companheiros e patrões
O meu pai mais que amado
Os amigos e parceiros
O dinheiro; o permutado:
Eu estava enfrentando
Um grande caso inusitado.

Escolhi o que é certo
Pra fugir do que é errado
Eu fiquei com meu amor
Que estava adoentado
Não podia mais fugir
Do que estava preparado
Pra que um dia eu me tornasse
Um grande homem melhorado
Pra chegar até aqui
E deixar o meu legado:

No céu existe um Deus Tremendo
Que leva tudo escriturado
Que de tudo toma nota
Pra que não fique enganado
Nenhum um filho do seu peito
Nenhum pai do seu rebanho
Quanto ao fato de que tudo
Por Ele é autorizado.

Londrina, 1/8/2009

Livro com ilustrações coloridas

Nos livros que lê
Ela não aprende nada
Sobre mim
Eu
Que sou um livro aberto
Com letrinhas
E desenhos
Coloridos
Do começo
Até o fim...

Londrina, 29/7/2009

O beijo do diabo

Hoje eu vi a cara do diabo
Ele sorriu da minha dor
Sentiu prazer no meu sofrimento
Satã quis me possuir
E tive que gastar todas as forças
Para ele não conseguir.

Arranhei a testa sem querer
Soquei a porta do guarda roupas
Rolei no chão e na cama
Gritei como um louco
Urrei como um bicho
E por um momento
Um momento apenas
E não mais que um momento
Eu desejei a possessão.

Ela me viu no chão
Ela me viu na cama
Mas não me deu sua atenção
Porque depois que inventaram
A palavra perdão
Muitos são os que se escondem
Atrás dessa ilusão.

O perdão não é palavra
O perdão é atitude
Através de uma ação.
O perdão é movimento
Movimento de abraço
E de beijo; e de língua.
Para os fracos
E apenas para os fracos
O perdão é uma palavra
Que sai da boca facilmente
Mas não entra na mente
Muito menos no coração.

Por isso quase beijei Satã
Por isso ele quase me abraçou
Por isso foi que o desejei
E minhas carnes doeram
E meus músculos doeram
E meus ossos se contorceram
E o arranhão na testa
Ficou vermelho
Em frente ao espelho
Depois que tudo passou...

Só eu não passo...
Só eu não passo...
Só eu não faço nada...
Sou nada... de nada...

Esse gosto na minha boca
Não vem da sua boca
Querida, esse gosto é estranho
E não sei de onde veio...

Eu só sei que é quente...

Londrina, 29/7/2009

Há quarenta segundos

Há quarenta anos
Quando o primeiro homem
Pisou na lua
Eu não pisava
Em lugar nenhum.
Há quarenta meses
Eu pisava no solo
De Pimenta Bueno;
Há quarenta semanas
Também.
Há quarenta dias
Piso em Londrina.
Há quarenta horas
Também.
Há quarenta minutos
Eu pisei num monte de cocô de cachorro
Que fedeu demasiadamente
E me inspirou este Poema
Que a quarenta segundos
Comecei a escrever.

Londrina, 20/7/2009

Fechado para balanço

O meu site está fechado
O meu peito está fechado
O meu cu está fechado
Meus ouvidos tão fechados
Meu estômago fechado
O meu pinto está fechado
O meu saco está fechado
Tudo em mim está fechado...

E nada balança... Nem o badalo...

Londrina, 18/7/2009

Vida invertebrada

Vida...
Vida invertebrada
Não tem osso de nada
Não tem nada de nada
E não tem nada a ver.
Mas tenho que viver a vida
Se ela é feita pra viver.
Essa voz calada
Essa mente vazia
E essa vida vazia
Esse texto impensado
Eu na cadeira sentado
Em cima da vida vazia.
Esse tempo fechado
Essa porta fechada
Essa curva sem fim,
Sou eu andando na curva
Com a mala amarrada
Cheia de vento e pó
Esperando a história passar.

Mas a vida invertebrada
Se arrasta molemente
Como um caramujo
Que se arrasta na praia
Saindo de Santa Catarina
Pra conhecer a Bahia
Viajando o litoral.
Ah companheiro gosmento
Se arrasta vid’afora
Arrastando sua casa
Arrastando suas asas
Arrasando os seus sonhos
Na esperança de chegar.
Um dia eu também chego
Nessa égua sem pelego
Aonde é o meu lugar...

Enquanto isso, na estrada
Verso a vida invertebrada
E essa falta de vontade
De se erguer e caminhar.
É mais fácil eu me ir
Quando a chuva cair
Pra sair desse lugar...

Êta vida invertebrada...

Londrina, 16/7/2009

Eu não quero mais visitas

Fui visitado por anjos
Fui visitado por demônios
Em uma noite sem sono
Em uma noite estranha
Fui visitado por espíritos
Que me puxaram o dedo
Do pé para eu acordar.

Fui visitado por espíritos
De morte que queriam
Me matar... me levar...
Para onde? Até quando?

Eu não gosto de visitas
As visitas me incomodam
Eu não gosto de visitas
Quando elas me acordam
Eu não gosto de visitas
Elas enchem o meu saco
Eu não gosto de visitas
Os espíritos me matam.

Fui visitado por anjos
Em uma noite sem perdão
Fui visitado por demônios
Num sono de perturbação
Fui visitado por espíritos
Que queriam minha morte
Fui visitado pela morte
Numa noite sem acordos.

Acordei pela manhã
O dia estava ensolarado
Lá fora o clima era bom
O tempo estava abençoado
Eu, sentado em minha cama
Meio dormindo, ou acordado
Vi passar entre as cobertas
Um espírito camuflado.

Eu não gosto de visitas
Não quero mais ser visitado
Eu odeio essas visitas
Eu não tenho um legado
Vou mandar minhas visitas
Num endereço errado
Onde não encontrem minha alma
E me deixem ali, deitado...

Londrina, 15/7/2009

Prisão

Esse sentimento me prende a você
Tento me soltar e sofro intensamente.
Meus passos não saem do lugar
Quando ando, não chego a lugar nenhum.
Falo e volto atrás no que digo
Penso, e repenso o pensado novamente.
Quero ir e fico; vou querendo voltar.
Falo mal e te elogio ao mesmo tempo
Quero bater na tua cara, mas
No instante seguinte quero te dar carinho.

Às vezes me sinto um condenado
E quase sempre quero continuar nessa prisão.

Londrina, 13/7/2009

Domingo enfadonho

O meu time empatou
O meu piloto perdeu
Eu toquei violão
E esse domingo
Foi um saco sem fundo.
Ê fim de mundo!

Eu não quero torcer
Eu não quero assistir
Eu não quero tocar
E não quero escrever.

Londrina, 12/7/2009