quarta-feira, 21 de julho de 2010

Essa quarta-feira mórbida

Essa quarta-feira mórbida
Entristece meus neurônios
E desperta a preguiça
Que aflora de minh’alma;
Traz-me dores à cabeça
Enrijece-me o pescoço
Agoniza-me o semblante
Aborrece-me o espírito
E me faz querer parar...

Só não sei porque não paro
Vulto manso que me vem
De tão longe que não sei
De onde vem seu revoar;
Vulto manso que me traz
Os Poemas que escrevo:
Nesses versos me enlevo
Com o medo de chorar...

Mas não quero mais o pranto
E o amor que me enganou
Me recluso sob um manto
Pranteando o meu canto
Que mi’a voz jamais cantou.
Vou em busca de acalanto
Nesses versos desmedidos;
Os meus olhos não fingidos
Esbugalham essa ânsia
Que carrego desde a infância
Com gemidos e com dor...
Eu não sou um pensador
Dos melhores que se encontra
Eu só sei que me vêm contra
As mazelas da existência...
Sem perdão e sem clemência
Eu me entrego à Sua ira.
Se minh’alma inda suspira
Eu bem sei: Tens paciência.

Linda e bela Poesia
Não é isto que eu queria
Prantear em versos fracos;
Te importa o que quero?
Versos ricos eu espero
Lendo as tábuas dos Poetas
Que escreveram no passado.
Eu não ouço suas vozes.
Suas sombras são algozes
Quando busco em profundeza
Encontrar toda riqueza
Dentro da sabedoria;
Não maltrates, Poesia
Este vate já cansado
Pelas vis tão escarnado
Pelas más despedaçado
E por ela não querido,
Porque nunca fui bandido
Apesar de ser safado.

Elas me tiraram tudo
Meu sossego, minhas rimas;
Usurparam minha língua
Derramando-se em prazer;
Suplicaram os meus dedos
Meus apertos e mordidas,
E gozaram-se em lambidas
Que eu dei por inocência,
Poesia, a carência
Que eu sinto nesse instante
É voltar a ser amante
Das malvadas e bandidas.

Essa quarta-feira mórbida
Me descamba em nostalgia
Mas também, o que seria
Dos meus versos sem tristeza?
Se procuro a nobreza
Vou trilhar o meu caminho;
Vou sem ela... vou sozinho
Por não ter sua companhia,
Vou sem medo e na certeza
De te ter, oh Poesia!

Pimenta Bueno, 21 de Julho de 2010