segunda-feira, 10 de maio de 2010

Meus sinos desdobram na cara

O zunido badala a morte
Uma sina badala a vida
Um coelho badala a sorte
Mas o bobo badala a corte
E a língua badala a lambida.

Esse vento que sopra funesto
É a sombra que gela a alma
Se a boca me diz que não presto
Uma xana aquece e acalma.

E eu saio correndo e não volto
Eu só volto, se for pra gozar
Vou sofrendo, sozinho, e aposto
Que um dia inda vou acertar.

A aposta empobrece a seiva
E o joio encarece o trigo
A doença impede a labuta
E a puta acaba comigo.

O Jesus salvou a própria pele
E me diz como devo fazer
Se eu faço e a razão me impele
Vou ser vil e desobedecer

No vagão desatado do trem
Me encontro esperando o sino
Que badala o badalo da morte
Me deixando um verme menino

Me escondo e o escuro me atinge
Olho tanto e não vejo a luz
Já não sei onde foi o caminho
E perdi até mesmo mi’a cruz.

Nos teus olhos eu vejo mistério
Da tua boca eu ouço mentira
Na tua mão eu contemplo um império
Na tua mente fervilha a ira.

Na pintura da tela, vadia
A tintura da lama se espalha
E o som que escapole da lira
Confecciona uma negra mortalha.

A tua voz estremece o mundo
Teu agudo explode a cigarra
E se agarro teu peito profundo
Tua boca me lambe e me escarra.

E você sai andando, infeliz
Porque agora já pode sonhar
Não importa, vilã e meretriz
Se teu riso vai me esmagar

Porque o sino badala meu manto
Que enrola minha’lma no féu
Me aplaude Satã no inferno
Me pranteia o Cristo no céu.

Me esnoba o filho amado
Me rejeita a filha em flor
Na fumaça eu desapareço
E retorno no vão do calor.

Se eu digo o que compreendes
Então falo o pó da besteira
Mas se perdes o tino, entrementes
No teu peito eu finco a bandeira,

A bandeira que o vento balouça
E que ergue as cores que pinto
São as cores que pintam o pranto
Desse peito que nem mais eu sinto.

E se o sino badala a morte
E se o sino badala a vida
E se o sino badala a sorte
E se o sino badala a lambida

Sou eu quem badala a corte
Pois o bobo é quem sabe a história
Eu badalo teu peito, teu corte,
Ao riscar toda a trajetória.

Pois se engoles o meu grande mastro
Sou teu gato em cachorro fingido
E ao gozares teu gozo nefasto
O meu gozo eu guardo retido,

Pra deixar tua cara lambida
Nesse gozo, demais lambuzada
E mostrar-te, ó minha querida
Que por mais que tu sejas safada
Sou eu quem engole a cuspida
Que me deste, sua desgraçada.

Espigão do Oeste, 10 de Maio de 2010

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